sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Criança e fé - a educação e a prática religiosa


O Natal, em si, é uma data religiosa. E todo brasileiro sabe que a religião por aqui é muito diversa: católicos, judaístas, umbandistas, evangélicos, espíritas, budistas, testemunhas de Jeová, Mórmons, islamitas...

Fé e educação travam embates há muito tempo. Isso porque um lado defende o ensino da religião nas escolas como “formação integral da pessoa” e o outro lado define que, em razão da diversidade cultural religiosa aqui existente, o ensino de religião deve ser facultativo, assegurando qualquer tipo de discriminação (como se a palavra preconceito tivesse morrido junto com o latim, mas isso é outra história...).

Pois bem, opiniões sobre ensino religioso e diferentes cultos à parte, o assunto é extenso e não cabe aqui fragmentá-lo em suas profundas e diversas ramificações. Apenas aproveitamos este momento de festa cristã e lançamos 4 perguntas relacionadas a criança e fé para 2 leitores de religiões diferentes e obtivemos os depoimentos abaixo.

Parte 1 – Rudney Belloto

Qual importância da fé no universo infantil?
A não ser pelos avanços tecnológicos e a tão eficiente (ou ineficiente) informação instantânea, pouco se difere de outros tempos, tampouco as crianças. Elas continuam sendo perspicazes e inteligentes como sempre foram, e se adaptam facilmente às modernidades do mundo.
Inicia-se daí nossa preocupação, pois deixamos a desejar naquilo que é fundamental na formação desses pequenos cidadãos: o acompanhamento, proximidade ao crescimento e a preocupação na formação da responsabilidade social, ética e moral desse indivíduo.
Assim, faz-se necessário a presença da família, em especial dos pais, como exemplo de conduta amorosa, fraterna e caridosa ao ser humano. Quando a religiosidade está inserida no seio familiar, contribui-se para a formação espiritual da criança. Nisso consiste a essência de todas as religiões, a verdadeira manifestação de Deus em qualquer seita, crença ou culto. A isto damos o nome de fé, que deve ser apresentada e expressada com gestos, ações e testemunhos, para nortear e conduzir esses pequenos seres em sua caminhada como pessoas felizes, honestas, bondosas e justas.
Quais os resultados que podem ser obtidos pela educação religiosa?
A educação religiosa quando efetuada de forma clara, sem imposições ritualísticas e intransigências normativas segmentares, contribui significativamente para o desenvolvimento do caráter e personalidade de toda e qualquer pessoa. A escolha deve ser sempre pessoal e individual, nunca através de pressões ou intimidações, mas sem dúvida, deve existir liberdade para manifestar e assim praticar o bem ao próximo.
A religiosidade se torna fermento em nossa vida e ao adicionarmos respeito, tolerância e amor, certamente estaremos rumando para uma sociedade digna, frutuosa e viva para todos.
Rudney Bellotto Costa tem 49 anos, serviu como Ministro da Eucaristia, Ministro da Palavra e Ministro Extraordinário do Batismo por 5 anos na Paróquia São Pedro Apóstolo do Jardim Independência (SP). Foi catequista de sacramento de Batismo e Iniciação Cristã com Adultos. Atualmente é catequista de Iniciação Cristã com Adultos e Catequista de sacramento do Batismo na Paróquia Nossa Senhora de Lourdes da Água Rasa (SP).

Parte 2 – Aline Orosco

Como inserir nosso filho num contexto social sem que ele sofra discriminação por sua religião?
Eu não tenho como evitar que sofram discriminação, eu faço o caminho contrário, ensino a não discriminar ninguém, a aproximar-se de outras crianças na escola, num parquinho, no shopping mesmo que essa criança, aos 5 anos, já use saia longa e cabelo comprido, ou que esteja com uma mãe muçulmana. O melhor amigo da minha filha na escolinha é evangélico de um segmento que não permite que a criança frequente sequer a festa junina da escola por ser considerada "adoração a santos católicos". Então eu ensino a eles que amizade, respeito estão acima desse tipo de coisa, que tem que brincar junto...

Nexte contexto, como se posicionar diante do filho sobre as diversidades religiosas com as quais ele convive?
Aqui em casa a nossa posição é respeito e informação! Queremos que respeitem quem vive diferente de nós (na medida do que sabemos, ensinamos as diferenças religiosas) e que se coloquem no mundo como Umbandistas! A nossa religião é muito discriminada e desrespeitada porque os próprios praticantes escondem o que são, quando por exemplo vão preencher uma ficha escolar e escrevem "católicos" porque é mais comum, ou por vergonha, ou por medo... nossos filhos convivem com nossas velas coloridas, nossos cantos aos Orixás, nossas guias, com as festas de Cosme e Damião, Yemanjá... E da mesma forma vão a casamentos e batizados católicos para poderem conviver e saber como são as coisas em outra religião. Mas tudo sempre com muito respeito. 
Aline Orosco é formada em psicologia, trabalha com decoração de festas e é mãe de Jorge (2 anos) e Maria Luiza (6 anos).

Fé e criança. Como você aborda este assunto na sua casa? E na escola do seu filho, como o assunto é tratado? Certamente um bom diálogo pode ser aberto sobre esta questão. Desejamos que a data cristã abra esta conversa e que todos possam se unir, independentemente de suas crenças, num momento de harmonia e alegria junto com as crianças que educamos para o futuro. Feliz Natal! 

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