O Natal, em si, é
uma data religiosa. E todo brasileiro sabe que a religião por aqui é muito diversa: católicos, judaístas, umbandistas,
evangélicos, espíritas, budistas, testemunhas de Jeová, Mórmons, islamitas...
Fé e educação travam embates há muito tempo. Isso porque um
lado defende o ensino da religião
nas escolas como “formação integral da
pessoa” e o outro lado define que, em razão da diversidade cultural
religiosa aqui existente, o ensino de
religião deve ser facultativo, assegurando qualquer tipo de discriminação
(como se a palavra preconceito
tivesse morrido junto com o latim, mas isso é outra história...).
Pois bem, opiniões sobre ensino religioso e diferentes cultos
à parte, o assunto é extenso e não cabe aqui fragmentá-lo em suas profundas e
diversas ramificações. Apenas aproveitamos este momento de festa cristã e lançamos
4 perguntas relacionadas a criança e fé
para 2 leitores de religiões diferentes e obtivemos os depoimentos abaixo.
Parte 1 – Rudney Belloto
Qual importância da fé no universo infantil?
A não ser pelos avanços
tecnológicos e a tão eficiente (ou ineficiente) informação instantânea, pouco
se difere de outros tempos, tampouco as crianças. Elas continuam sendo
perspicazes e inteligentes como sempre foram, e se adaptam facilmente às
modernidades do mundo.
Inicia-se daí nossa preocupação,
pois deixamos a desejar naquilo que é fundamental na formação desses pequenos
cidadãos: o acompanhamento, proximidade ao crescimento e a preocupação na
formação da responsabilidade social, ética e moral desse indivíduo.
Assim, faz-se necessário a
presença da família, em especial dos pais, como exemplo de conduta amorosa,
fraterna e caridosa ao ser humano. Quando a religiosidade está inserida no seio
familiar, contribui-se para a formação espiritual da criança. Nisso consiste
a essência de todas as religiões, a verdadeira manifestação de Deus em qualquer
seita, crença ou culto. A isto damos o nome de fé, que deve ser apresentada e
expressada com gestos, ações e testemunhos, para nortear e conduzir esses
pequenos seres em sua caminhada como pessoas felizes, honestas, bondosas e
justas.
Quais os resultados que podem ser obtidos pela educação religiosa?
A educação religiosa quando
efetuada de forma clara, sem imposições ritualísticas e intransigências
normativas segmentares, contribui significativamente para o desenvolvimento do
caráter e personalidade de toda e qualquer pessoa. A escolha deve ser sempre
pessoal e individual, nunca através de pressões ou intimidações, mas sem
dúvida, deve existir liberdade para manifestar e assim praticar o bem ao
próximo.
A religiosidade se torna fermento em nossa vida e ao adicionarmos respeito, tolerância e amor, certamente estaremos rumando para uma sociedade digna, frutuosa e viva para todos.
A religiosidade se torna fermento em nossa vida e ao adicionarmos respeito, tolerância e amor, certamente estaremos rumando para uma sociedade digna, frutuosa e viva para todos.
Rudney
Bellotto Costa tem 49 anos, serviu como Ministro da Eucaristia, Ministro da
Palavra e Ministro Extraordinário do Batismo por 5 anos na Paróquia São Pedro
Apóstolo do Jardim Independência (SP). Foi catequista de sacramento de Batismo
e Iniciação Cristã com Adultos. Atualmente é catequista de Iniciação
Cristã com Adultos e Catequista de sacramento do Batismo na Paróquia Nossa
Senhora de Lourdes da Água Rasa (SP).
Parte 2 – Aline Orosco
Como inserir nosso
filho num contexto social sem que ele sofra discriminação por sua religião?
Eu não tenho como evitar que sofram discriminação, eu faço o
caminho contrário, ensino a não discriminar ninguém, a aproximar-se de outras
crianças na escola, num parquinho, no shopping mesmo que essa criança, aos 5
anos, já use saia longa e cabelo comprido, ou que esteja com uma mãe muçulmana.
O melhor amigo da minha filha na escolinha é evangélico de um segmento que não
permite que a criança frequente sequer a festa junina da escola por ser
considerada "adoração a santos católicos". Então eu ensino a eles que
amizade, respeito estão acima desse tipo de coisa, que tem que brincar junto...
Nexte contexto, como se
posicionar diante do filho sobre as diversidades religiosas com as quais ele
convive?
Aqui em casa a nossa posição é respeito e informação!
Queremos que respeitem quem vive diferente de nós (na medida do que sabemos,
ensinamos as diferenças religiosas) e que se coloquem no mundo como
Umbandistas! A nossa religião é muito discriminada e desrespeitada porque os
próprios praticantes escondem o que são, quando por exemplo vão preencher uma
ficha escolar e escrevem "católicos" porque é mais comum, ou por
vergonha, ou por medo... nossos filhos convivem com nossas velas coloridas, nossos
cantos aos Orixás, nossas guias, com as festas de Cosme e Damião, Yemanjá... E
da mesma forma vão a casamentos e batizados católicos para poderem conviver e
saber como são as coisas em outra religião. Mas tudo sempre com muito respeito.
Aline Orosco é formada em
psicologia, trabalha com decoração de festas e é mãe de Jorge (2 anos) e Maria
Luiza (6 anos).
Fé e criança. Como você aborda este assunto na sua casa? E
na escola do seu filho, como o assunto é tratado? Certamente um bom diálogo
pode ser aberto sobre esta questão. Desejamos que a data cristã abra esta conversa
e que todos possam se unir, independentemente de suas crenças, num momento de harmonia
e alegria junto com as crianças que educamos para o futuro. Feliz Natal!
Nenhum comentário:
Postar um comentário